A relação entre o câncer e as doenças do coração
As doenças cardiovasculares e o câncer são as principais causas de mortalidade em todo o mundo. E, atualmente, sabemos, cada vez mais, que há muitas interações entre esses dois problemas.
Primeiro, fatores de risco conhecidos para doença cardíaca, como obesidade, hipertensão arterial, tabagismo, dislipidemia (gordura aumentada no sangue), diabetes, sedentarismo, dentre outros, também aumentam o risco de câncer. Além disso, algumas pesquisas recentes sugerem que alterações orgânicas decorrentes de problemas cardiovasculares, como a insuficiência cardíaca, podem predispor ao surgimentos de tumores. E, desde o final da década de 70, foi demonstrada a ocorrência de efeitos colaterais da quimioterapia e da radioterapia no coração.
Nos últimos dez anos, o estudo da relação entre doença cardíaca e câncer deu origem a uma nova área ou subespecialidade: a cardio-oncologia. Esta área tem como objetivo unir oncologistas, cardiologistas e os demais profissionais de saúde para prevenir, diagnosticar e tratar de maneira eficiente as doenças cardiovasculares em pacientes com câncer.
Na prática clinica, observamos toxicidade ou efeitos colaterais dos quimioterápicos no coração, uma vez que, graças aos avanços da oncologia, no que se refere a novos medicamentos e tipos de tratamento, felizmente esses pacientes vivem por mais tempo. Tais efeitos colaterais variam desde alterações no eletrocardiograma, a casos graves de insuficiência cardíaca, arritmias, infarto agudo do miocárdio e tromboembolismo venoso. No caso do câncer de mama, após oito anos de diagnóstico e tratamento, a principal causa de morte passa a ser por problemas cardiovasculares.
Felizmente, a cardio-oncologia, com o estabelecimento de rotinas de acompanhamento e de controle clínico adequado dos pacientes, tem contribuído para a redução das complicações cardíacas dos pacientes desde o inicio do diagnostico de câncer.
Toda a população deve estar esclarecida da importância da prevenção – tanto do câncer quanto das doenças do coração. Não fumar, não beber em excesso, praticar atividade física regular, prevenir e cuidar da hipertensão arterial, diabetes e dislipidemia pode significar vida longa e com qualidade. Além disso, medidas protetoras à saúde do coração devem ser enfatizadas de maneira ainda mais rigorosa em pacientes com câncer –pela maior ocorrência de dano cardíaco, além da possibilidade de também gerar melhores resultados no tratamento oncológico.
A importância da cardio-oncologia é tamanha que, no Brasil, desde 2010, com o apoio das Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Sociedade Brasileira de Oncologia, nós publicamos diretrizes para uniformizar protocolos e condutas na área, assim como sugerimos a inclusão da temática na grade curricular nos programas de residência em cardiologia.
O Instituto do Coração e o Instituto do Câncer do Hospital das Clinicas, da Faculdade de Medicina da USP, em colaboração com o Hospital Sírio-Libanês, passaram a desenvolver estudos clínicos e pesquisas experimentais na área, com o objetivo de auxiliar o maior numero de pacientes a ter tratamento seguro e, acima de tudo, a viver com qualidade.
Nesse ano, teremos a honra de sediar o Congresso Mundial de Cardio-Oncologia que, pela primeira vez na história, ocorrerá no Brasil, em São Paulo.
Certamente, a Cardio-Oncologia é um campo que está em clara ascensão, e tem como grande desafio amparar, de forma plena, os pacientes que, durante ou após o tratamento contra o câncer, possam desenvolver doenças cardiovasculares.
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